MEMÓRIAS DE ROSANA – EM POESIA
(por Regilene Rodrigues Neves)

Rosana
Ainda menina
Trazia em sua criança todos os sonhos...

Limitados pelos infortúnios de uma vida pobre
De fome na alma
Do alimento, do amor, do carinho,
Por trás da força aparente na sua fragilidade
Gritante de inocente!

Nas visitas a casa da tia Tete
De mulher ágil a iluminar
Uma cidade inteira
Tamanha grandeza...

Simplesmente seus olhos
De criança faminta brilhavam
A ouvir sua mãe pronunciar
“Vamos visitar tia Tete”!

Via lá a fartura sobre a mesa
Alimentar seus olhos cheios de fome
E se deliciava a contemplar
O que no seu lar eram resquícios
Das suas provações...

E ali cheia de vontade:
A pequena Rosana se fartava
Numa viagem de saciar-se
De um simples feijão com arroz
E uma saladinha de repolho
Que pareciam fios de linha
Que pelo olhar ela tragava
O esplendor de um banquete
A servir aquela faminta menina
De que quem comeu jamais esqueceu o sabor...

Era tudo feito com tanto amor
Que o prazer de comer aquela simples comidinha
Fazia-lhe questionar enquanto chorava e se perguntava
Porque na sua casa não era assim?

E a carência continuava a sobrar em sua alma...

Tia Tete maltratada pela vida
Conseguia ser maior e ser generosa
Sempre atenta. Aquele que dela necessitasse...

Era sua protetora qual uma fada madrinha
A vigiar-lhe contra um bando de filhos
Que lhe assediavam e para que não a judiassem
Ali era seu abrigo contra a fome
E todo mal a seu redor...

Em sua inocência: Rosana
Tinha pensamentos que lhe faziam chorar
E se culpar por permitir-lhes
Em seus anseios de menina
Que começava a desabrochar
Para os desejos mais íntimos
Que mal se atrevia se quer a pensar
Seus medos eram maiores
E seus pensamentos eram guardados a sete chaves...

Mesmo com todos os assédios Rosana era protegida
Por seu anjo da guarda que estava onde ela estivesse
E lhe protegia e assim se tornou mulher
Ainda de sonhos virgens e românticos
Que há levariam um dia,
Para os braços do amor...

Mesmo por trás de suas desconfianças e medos
Rosana cresceu sonhadora
E aquela frágil menina se descobriu
Uma mulher sensual
Que ao longo da infância e juventude
Fora assediada e marcada
Pelas perseguições do mal...

E hoje na vida adulta ela se pergunta:
A mulher não pode ser sensual
Sem sofrer ataques? Sem ser rotulada?
Sem ser assediada como uma prostituta?
E pior, e monstruoso, sem ser molestada,
Quando criança sem qualquer defesa?

Até quando a mulher será desrespeitada pelos homens?
Até quando nossas crianças serão molestadas?

Rosana
Após descobrir em si mesma: uma guerreira
Levantou a bandeira
Ao superar os rótulos e sentir prazer consigo mesma
E ser mulher: Lutando contra o mal
Dando asas a sua liberdade...

E assim ela descobriu a resposta
A maldade está na cabeça e no olhar de quem vê.

Em 10/02/2014

P.S. Poema inspirado no texto de Emiliana Vaz "Memórias de Rosana"




2 comentários:

  1. Amiga Regilene, a principio Rossana, menina tinha quem a protegesse proporcionando-lhe o que consideraria lautos banquetes. Cresceu e logo com a sua natural sensualidade, teve de aprender a defender-se. Isso já do foro de cada um. Se a enalteces é porque lhe vês valor.
    Parabéns!
    beijos

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  2. Sensível sua poesia, Regilene! A mulher, com toda sua sensualidade, tem o direito de ser livre, de fazer de sua vida o que bem entender, sem jugo, sem mando, sem dono. Ser ela mesma, sempre!
    Abraço.

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